O soldado Hiago Wenceslau Mendes Cunha é daqueles que sabem, na pele, o que é lutar pela vida. Aos 22 anos, o jovem cabo-friense já encarou batalhas duríssimas que moldaram seu caráter e o levaram a protagonizar, na última semana, uma cena que chamou a atenção de toda a Região dos Lagos.
Na noite da última sexta-feira (1º), Hiago estava de serviço no 18º Grupamento de Bombeiros Militar (GBM), em Cabo Frio, quando um casal chegou ao quartel desesperado, com um bebê de apenas seis dias nos braços, engasgado com leite materno e sem conseguir respirar. O soldado identificou a gravidade da situação e, em questão de segundos, aplicou a manobra de desobstrução das vias respiratórias. O recém-nascido voltou a respirar. “Para mim, tudo levou dois segundos. Agi com frieza, mas também com muita adrenalina. Não dava para errar. Tinha que dar certo. Graças a Deus, papai do céu guiou e, depois de tudo, pude respirar aliviado”, relembra Hiago.
Nascido e criado em Cabo Frio, Hiago fez questão de lembrar suas raízes e o impacto que sua história de vida pode ter para inspirar crianças e adolescentes da cidade. “Se minha história servir de exemplo para essa garotada, será muito maior do que uma satisfação pessoal”, afirma o jovem, que estudou nas escolas Alfredo Castro e Rui Barbosa, e hoje cursa o quinto período de Medicina em Campos.
Vindo de uma família tradicional de Arraial do Cabo, Hiago enfrentou a perda precoce do pai em um acidente de carro. Os desdobramentos familiares acabaram moldando seu propósito de vida. “Após o falecimento, vi na Medicina o melhor caminho de cuidar de mim e de minha família. Isso passou a ser uma necessidade”, conta.
Aos 18 anos, Hiago passou no concurso para bombeiros e atua, desde 2022, no quartel de Cabo Frio (18º GBM) como militar combatente, participando de operações de combate a incêndios, salvamentos, primeiros socorros e ocorrências de emergência. Porém, sua trajetória até aqui foi marcada por desafios muito além da formação militar.
A rabdomiólise e a luta pela vida
O sonho de ser bombeiro, no entanto, quase foi interrompido. Em 2022, durante sua recém-entrada na corporação, Hiago recebeu o diagnóstico de rabdomiólise, uma condição grave que afeta as fibras musculares do corpo. “Foi um dos momentos mais tensos da minha vida”, relembra o rapaz que passou cinco dias internado no CTI. “Foi um período de medo e reflexão. O que me deu paz foi um encontro espiritual com Deus, me dando a certeza de que eu sairia daquela situação”, diz.
Após a alta médica, Hiago conseguiu concluir o curso e se formar como bombeiro combatente. “Hoje estou 100% recuperado, sem sequelas. Papai do céu enviou anjos, inclusive colegas de farda, que me ajudaram a sair daquela situação. Deus me deu a vitória”, destaca.
Reconhecimento, propósito e a missão de devolver à cidade
Logo após o episódio que salvou o bebê, Hiago recebeu elogios oficiais do comando do 18º GBM, registrados em boletim interno da corporação, pelo ato considerado “honroso”. Para ele, no entanto, o reconhecimento mais importante é ver seu trabalho servir como conscientização. “Se o meu socorro serviu para conscientizar pais e futuros pais sobre a importância dos primeiros socorros, já cumpriu a sua missão. Quando você está diante de uma vida tão frágil, percebe que cada segundo conta. Eu sabia o que fazer porque fui treinado para isso, mas também porque já estive do outro lado, lutando para viver”, afirma.
Hiago tem planos de seguir carreira na Medicina, se especializar e voltar a atender as pessoas da cidade onde nasceu, como médico de referência. “O meu maior sonho é ser médico do Corpo de Bombeiros, caso abra o concurso. Eu quero continuar ajudando e salvando vidas, porque foi para isso que Deus me trouxe até aqui”, finaliza.
