O mercado imobiliário nas cidades da Região dos Lagos, como Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios, enfrenta um período de incerteza. A tradicional alta demanda por imóveis de temporada parece encolher, enquanto o setor de vendas também apresenta queda. Corretores de imóveis apontam uma mudança no perfil dos consumidores, que estão mais voltados para locações fixas e imóveis de menor valor. Para entender melhor essa situação e as tendências para o final do ano, o Portal Fonte Certa ouviu especialistas sobre o assunto na região.
Ricardo Monte, vice-presidente do CRECI-RJ, relembra que na alta temporada de 15 a 20 anos atrás, os corretores de imóveis trabalhavam com pacotes fechados de no mínimo 10 dias. “Hoje esses pacotes foram reduzidos para 7 dias, depois 5, e hoje, muitas vezes, os clientes querem fechar apenas 3 dias”, explica.
Ele destaca que o encolhimento desses pacotes tem um impacto significativo no mercado. “O aplicativo Airbnb contribuiu muito para isso, tirando uma grande fatia do mercado que antes pertencia aos corretores. A demanda continua em alta, mas o número de dias reduzido e a divisão do mercado com o aplicativo resultam em honorários menores “, conta Ricardo.
A corretora Patrícia Cardinoth, que atua em Cabo Frio, destaca que o mercado está estagnado, com pouca movimentação tanto nas vendas quanto nas locações de temporada. Segundo ela, a demanda por imóveis para temporada tem diminuído significativamente, o que pode ser atribuído, em parte, ao cenário político e à falta de turistas na cidade. “A procura está concentrada em locações fixas, especialmente de imóveis mais acessíveis, com valores entre R$1.500 e R$2.500, que são difíceis de encontrar”, afirma Patrícia.
A profissional também alerta para o aumento de golpes envolvendo aluguéis de temporada feitos de maneira informal, sobretudo em cidades turísticas como Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo. “Muitas pessoas acabam sendo vítimas de anúncios fraudulentos na internet. Por isso, é essencial que os clientes busquem um corretor credenciado para evitar problemas”, reforça a corretora.
João Vitor Póvoas, que atua mais no setor de vendas, vê um cenário diferente para imóveis novos e financiados abaixo de R$500 mil, especialmente em bairros como Passagem, Algodoal e Braga, em Cabo Frio, e nas regiões da Praia dos Anjos e Prainha, em Arraial do Cabo. “A procura por flats e lançamentos está em alta, mas o volume de negócios caiu 30% em comparação ao ano passado, algo que atribuo parcialmente ao impacto das eleições”, explica João Vitor.
Ambos os corretores concordam que o turismo desempenha um papel vital no aquecimento do mercado. Segundo Patrícia, falta uma iniciativa mais eficaz do poder público para diversificar a agenda cultural e de eventos nas cidades da região. “Precisamos de uma gestão eficiente e atrativa que promova eventos de alto padrão e traga um público diferenciado para movimentar o setor imobiliário”, conclui.
As expectativas para o fim de ano permanecem cautelosas, com uma possível recuperação dependendo de ações estratégicas tanto no setor imobiliário quanto no turismo local.