O segundo dia do seminário ‘100 anos de Rádio nos 200 anos da Independência’, realizado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), destacou a importância do Jornalismo como eixo temático com a mesa ‘Testemunha Ocular da História – o Radiojornalismo nos 100 anos de Rádio no Brasil’. Organizado pela Subdiretoria Geral de Cultura da Alerj, com apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, o evento foi encerrado nesta sexta-feira (dia 16), no auditório do Alerjão, à Rua da Ajuda 5 – 21º andar, Centro, Rio de Janeiro.
O professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF) João Batista de Abreu, disse que o radiojornalismo começou com Roquette Pinto, que tinha uma linha telefônica, lia os principais jornais, selecionava as notícias e fazia comentários. Depois veio a “Gilette Press”, em que os radialistas recortavam e liam as principais notícias no ar. Em agosto de 1941, estreava pela Rádio Nacional o Repórter Esso, que trazia diariamente 13 notas, bastante objetivas, a maioria internacionais. Os repórteres eram contratados por uma agência de publicidade americana. A rádio operou até 31 de dezembro de 1968, quando passava a vigorar o Ato Institucional número 5, que instalou a censura na imprensa brasileira.
“O rádio sofreu muito com a censura prévia depois do AI5, que só foi suspenso no final de 78”, disse Abreu. Segundo ele, o veto às notícias chegava por telefone pelo departamento de censura da Polícia Federal.
Para Abreu, que é autor do livro “Batalha Sonora, o rádio na segunda guerra”, entre outros, o rádio mantém a sua popularidade. “É um veículo que atinge muita gente sem recurso, exerce um papel muito importante como difusor de informação, democrático e como um meio de afeto, preenchendo a solidão de trabalhadores que atuam à noite ou sozinhos, como vigias, taxistas, caminhoneiros e domésticas”, destaca.
O jornalista, que também é conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), lembrou que a primeira experiência com rádio ocorreu em Pernambuco, e só três anos depois no Rio de Janeiro, então capital federal do país, com Roquette Pinto, ocorreu a primeira transmissão oficial. A empresa americana Westing House emprestou 80 aparelhos de rádio e três antenas pata transmitir a ópera ‘O Guarani’ e o discurso de Epitácio Pessoa. A transmissão chegou até São Paulo.
O jornalista Anderson Baltar, âncora e coordenador de Jornalismo da Rádio Arquibancada, falou sobre a força do rádio. “O rádio não morreu, se reinventa com a popularização da Internet. Ao contrário, está aumentando, como apontam as pesquisas, talvez como efeito da pandemia, que também fez a demanda por jornalismo aumentar”. Segundo Balthar, o rádio tem o componente de credibilidade. “Há uma grande quantidade de radialistas que se transformaram em políticos. Na TV não tem tanto”, destacou.
Baltar, que atua também como pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, disse que, apesar da Internet, o rádio não perdeu o seu imediatismo. “A mobilidade do rádio só ampliou com o celular e com a Internet. O rádio apostou na segmentação. Um bom aplicativo de rádio permite baixar rádio para tudo, de astrologia, de urologia e até de motel”, comentou.
Segundo ele, é importante diferenciar o rádio na web – emissoras tradicionais que mantêm sites na Internet – da radioweb – que funcionam exclusivamente por meio digital. Outro aspecto destacado pelo pesquisador é a desterriteriolização do rádio web, que permite ter acesso a conteúdo de diferentes lugares ao mesmo tempo graças à internet. Balthar também falou sobre a Rádio Arquibancada, que criou há 11 anos para promover a cobertura de Carnaval e do mundo do samba. No início a transmissão era por meio da Internet 3G, menos popularizada e acessível pelo celular. “Com o tempo, a chegada da tecnologia 4G, as transmissões chegaram a mais pessoas e também se estenderam ao vídeo, sempre priorizando a qualidade do som e a informação”.
Lena Benzecry, pesquisadora de rádio, apresentou os palestrantes destacando o papel do rádio como informação e poder. “O jornalismo adentra o rádio como instrumento de informação e poder. Foi o primeiro a se consolidar como meio de comunicação de massa. E se fortalece a partir de seu uso político”, disse, fazendo referências à discursos de Hitler e Mussolini mostrados no especial pelos 75 anos da rádio BBC de Londres em março de 2013. “Era uma guerra de propaganda onde a verdade era a maior vítima. No Brasil, Getúlio soube usar o rádio, mas sem o discurso de ódio”, pontuou. Segundo ela, hoje a comunicação saiu do modelo um-todos, como era nos primórdios do rádio, para o modelo todos-todos, propiciado pela Internet.
Produtor do evento, Luiz Guimarães de Castro mediou a mesa, destacando a importância de conhecer a história do rádio para valorizar esse meio de comunicação.
Mais sobre o evento
O seminário ‘100 anos de Rádio nos 200 anos da Independência’ foi aberto na última quarta-feira com uma mesa sobre Dramaturgia, indo até esta sexta-feira (16), terceiro e último dia do evento, traz o eixo temático Música, abordando ‘Nossas Canções Cruzando o Espaço Azul – A Identidade Nacional pela Música nos 100 anos de Rádio no Brasil’.
Palestraram Adelzon Alves, radialista e produtor musical com mais de 50 anos de experiência no rádio brasileiro; Osmar Frazão Ator, radialista, pesquisador e contador de histórias sobre a música popular brasileira e seus personagens, com atuação em diversas emissoras de rádio; e Rubem Confete, jornalista, compositor, radialista e griot, porta-voz da cultura afrobrasileira no rádio. A mediadora da mesa será Lena Benzecry, jornalista, designer e autora do livro ‘O samba do rádio – do Rio para o Brasil’ (Editora Appris, 2017).
O evento será encerrado com um pocket show com Mariana Baltar (voz); Marcílio Lopes (bandolim); Jayme Vignoli (cavaquinho) e Josimar Carneiro (violão).