Nesta quarta-feira (30), a terceira entrevista da série com os candidatos a prefeito na eleição suplementar de Cabo Frio é com Carlos Augusto Felipe, conhecido como Carlão, do PHS. Durante conversa com o Portal Fonte Certa, ele fala um pouco do que pensa sobre seus planos para a cidade. As matérias serão publicadas diariamente durante essa semana seguindo a ordem da disponibilidade dos candidatos em conceder a entrevista ao portal.
Carlão tem 57 anos e é empresário. Ele é formado em Direito e Administração de empresas, sargento paraquedista e concorre pela segunda vez ao cargo de prefeito de Cabo Frio. Em 2016, teve 833 votos e ficou em sexto lugar na disputa. Confira a entrevista com o candidato do PHS:
Fonte Certa: Qual a diferença de Carlão para os demais candidatos?
Carlão: Os demais candidatos vêm de um processo de 22 anos na nossa cidade, onde sempre governaram sempre para seu grupo político. Sempre elegeram seus vereadores e deputados para continuar a mesma coisa, com o dinheiro público da cidade. Eles nunca se preocuparam com o desenvolvimento da nossa cidade, apenas com o grupo deles. Eu vejo de forma diferente. Acho que a cidade passa hoje por uma crise moral, ética e institucional. Não é crise financeira e sim organizacional. Acho que o que precisamos é de um gestor na prefeitura que tenha isonomia para governar a cidade. Governar a cidade como? Em conjunto com seus vereadores, óbvio, eles compõem o Poder Legislativo. O prefeito é o Poder Executivo. Eles têm que trabalhar em harmonia, em prol da cidade e não de vantagens e interesses pessoais. A cidade vem perdendo sua identidade ao longo desses 22 anos. Nossa cidade é conhecida hoje em todo pais e vários países do mundo mas, em compensação, nosso desenvolvimento na área cultural, na área turística e a capacidade de atrair são insignificantes. Basta andar na nossa cidade que ver que não temos nenhuma empresa de grande porte e as que tinham saíram. Estão no município vizinho, gerando emprego. Por que motivo? A razão é a crise institucional que foi implementada no nosso município. Jamais se preocuparam verdadeiramente com a cidade e com o povo. Sempre trabalharam em prol deles. Aí a cidade chegou ao caos que chegou.
Fonte Certa: Quem é o Carlão? O que tem a dizer para que afirma que você só aparece na época de eleição?
Carlão: Eu frequento Cabo Frio desde 1970. Minha família tinha casa na cidade e eu vinha passar férias. Sempre gostei muito da região, em especial de Cabo Frio. Cabo Frio nunca ofereceu oportunidade de trabalho para quem alcança um nível melhor na sociedade e tive que sair da cidade para buscar um meio de vida lá fora. Sou formado em Direito e Administração. Tenho vários cursos na área de Economia. Sempre trabalhei com auditoria, em empresas grandes. Escolhi Cabo Frio para, quando eu me aposentasse, morar com a minha família. Em 1995, comprei minha casa e a preparei para morar com a minha família. Lógico que as pessoas não conhecem o Carlão. Eu sou um cidadão normal. Trabalho e vivo para minha família. Eu não apareço em manchete negativas, a polícia não vem fazer busca e apreensão por estar envolvido em corrupção e falcatrua na cidade. As pessoas não me conhecem politicamente porque nunca fiz parte do cenário politico da cidade. Sempre vi isso com certa distância. Sempre acreditei, como a população sempre acreditou, que eles iam fazer o certo. A medida que as coisas vão avançando, a gente acaba sendo induzido ao erro. Também já votei neles. Hoje eu me lanço candidato a prefeito não por vaidade. Graças a Deus, sou muito bem resolvido. Não preciso me promover politicamente para satisfazer meu ego. Tenho uma vida muito bem definida com minha família, meus amigos. Acho que alguém tem que fazer alguma coisa por Cabo Frio. E pra começar a ser feita alguma coisa e devolver a cidade ao lugar que ela merece é preciso enfrentar essa quadrilha de marginais que se implantou na nossa cidade. É eles que eu quero enfrentar. Precisamos tirar a cidade da mão deles e devolver a quem de direito que é o povo de Cabo Frio, buscando o crescimento e o desenvolvimento. Hoje não temos emprego na cidade. A cidade passa por uma crise moral.
Fonte Certa: O que é possível fazer em dois anos? E porque é uma crise moral?
Carlão: Não sou eu quem digo. É o que eu vejo. (Ex-presidente da) Comsercaf preso, 17 mandados de busca da apreensão na casa do ex-prefeito da cidade, contrato de 700 milhões do lixo, fora o que não foi descoberto ainda. Mas se buscar tem mais. Eu lhe pergunto se na Comsercaf foram 60 e poucos milhões em um ano que apareceram, é crise financeira: claro que não é. Isso é uma crise moral. As pessoas não têm vergonha. O prefeito é cassado e se lança candidato de novo e se diz injustiçado. Avoca o nome de Deus, bota Deus no meio desse negócio. As pessoas perderam a vergonha. Elas roubam nossa cidade e usam o fruto do roubo para se eleger novamente. Usam a máquina pública e depois dizem que vão reconstruir a cidade. Como vai reconstruir a cidade desse jeito? O outro candidato, médico, aparece com cento e poucas portarias de fantasmas na cidade. O cara coloca o pai, coloca a mãe como funcionário fantasma. Isso é crise moral. As pessoas morrendo na Saúde, crianças sem merenda escolar, professor sem salários, a cidade no meio de uma crise. Como quer ser prefeito da cidade se tem várias portarias? Quem toca a campanha dele? Todos ex-secretários de Alair Corrêa. O outro diz que vem ser candidato novamente. Ele deu causa ao processo, que eu disse em 2016 que ia acontecer. Se alguém fizesse mandado de busca e apreensão na minha casa, eu teria vergonha de ser candidato. Porque somos pessoas de bem, temos vergonha, temos moral. O cara passa por esse momento e ainda consegue se colocar novamente. Vou te dizer que se ele tem direito legal, é imoral. Legalidade é uma coisa, imoralidade é outra. Atravessamos um momento muito difícil.
Fonte Certa: Como você trataria a questão da transparência?
Carlão: Na eleição passada, isso foi muito discutido e o candidato vitorioso, hoje cassado, disse que tinha construído o portal da transparência e que o outro não funcionava. A primeira coisa que ele fez foi desativar esse portal da transparência. Hoje o portal é considerado o pior do estado, não sou que estou dizendo, mas o TCE. O portal é nada mais nada menos uma satisfação que você dá ao dono do dinheiro, que é o povo da cidade. A prefeitura não produz um parafuso. O que ele arrecada é dinheiro do povo da cidade. Transparência não é mérito, é obrigação do gestor. Por isso que digo que politico é uma coisa, gestor é outra. Eu não sou politico, sou gestor. Não vou dar uma portaria ao amigo do meu amigo. Não vou fazer com a prefeitura o que não faria com a minha empresa, o que nenhum empresário faria com sua empresa: dar cargo para ajudar, porque tem peninha ou porque precisa. Se eu quero ajudar alguém, tenho que dar emprego a essa pessoa e dar a ela condições de trabalhar. A prefeitura é o maior empregador do município. Reconheço isso, mas a prefeitura não pode se cabide de emprego. Favorecer pessoas que não produzem nada e que não tratam bem o povo da cidade. Servidor público tem que servir ao público. Não pode receber dinheiro e nada fazer. Gestão se trabalha com metas e objetivos bem definidos. Mas nenhum gestor faz milagre. É preciso saber como gastar e o que pode gastar. Não pode sair distribuindo portarias por compromissos políticos com partido e vereador e fazer isso pra agradar os grupos políticos, que é melhor chamar de facções. Gestor tem que esperar resultado. Ele trabalha para o resultado.
Fonte Certa: O que pensa para Saúde, Educação e Comsercaf?
Carlão: São as três válvulas de escape da corrupção da nossa cidade. Se o Ministério Público olhasse para a Comsercaf, Saúde e Educação ia descobrir onde sai mais de 60% da riqueza da cidade. Não tenha divida. São os três ralos de escoamento da corrupção porque é onde gira o maior dinheiro da cidade. Educação e Saúde são onde tem o maior investimento, todo mundo quer o lixo. É onde você não tem onde controlar. Como vamos controlar o que é coletado e a vazão? É muito complicado. Tem algumas estimativas de x quilos por habitante. Mas Cabo Frio é uma cidade muito volátil. Pode ter 500 mil turistas, 200 mil habitantes, todo final de semana tem pessoa nova na cidade. Então não tem como controlar. Saúde é a mesma coisa. Como controla quantos pacientes atendeu, se o que foi comprado foi realmente entregue na mesma qualidade? Na Educação, qual a evasão nas nossas escolas? Como se apura a merenda que esta sendo servida? Se chegar numa escola vai perceber que tem muitas pessoas nomeadas do que tem trabalhando. Isso tem que ser tratado com muito carinho e muita responsabilidade.
Fonte Certa: Você tem 30 segundos para falar o que quiser.
Carlão: Sou um cidadão da cidade que esta muito preocupado com o futuro dela. Me lancei candidato porque acho que alguém tem que enfrentar essa quadrilha. Me coloco como opção pra governar a cidade e devolvê-la ao lugar que ela merece. Sou empresário, chefe de família. Sou uma pessoa normal, ficha limpa, nunca tive problema com falcatrua e nenhum tipo de envolvimento com essas pessoas. Eu tenho bastante consciência de que eu poderei ajudar muito nossa cidade.
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As eleições suplementares de Cabo Frio acontecem no dia 24 de junho. Concorrem ao pleito, além de Carlão, os candidatos Rafael Peçanha (PDT); Adriano Moreno (Rede); Marquinho Mendes (MDB); Cristiane Fernandes (PSDB); e Leandro Cunha (PSOL).
Nesta quinta-feira (31), o bate-papo será com o candidato do MDB, o ex-prefeito Marquinho Mendes.