Amar é um verbo no infinitivo, mas que a presidente da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Cabo Frio, Kely Soares, sabe conjugar de muitas formas a mais. 380, para ser exato. É o número de alunos atualmente atendidos pela instituição, sendo 300 da região central da cidade e 80 do segundo distrito de Tamoios.
A trajetória na organização social confunde-se com um de seus maiores desafios pessoais: o nascimento do filho temporão, Lucas, de 10 anos, que possui síndrome de Down, diagnosticada com poucos dias de vida. A descoberta, que de início assustou, ela confessa, serviu para abrir um novo mundo de possibilidades para ela e para toda a família. Seu pequeno ‘especial’ chegava para fazê-la reaprender a viver.
− Sou mãe do Júnior, de 29 anos. Depois de 20 anos, veio o Lucas. É uma grande diferença porque meu filho mais velho usava fralda de pano, não havia fralda descartável. Depois de todo esse tempo veio essa surpresa maior de um filho e com Síndrome de Down. Num primeiro momento, a gente não fica feliz, muito pelo contrário, leva um susto muito grande. Mas depois que tudo se assenta, você começa a entender que tem um filho diferente e especial. Você passa a viver um mundo totalmente diferente e percebe que ele veio pra mudar o seu olhar e para unir a família – relata Kely.
A necessidade de lidar com um “íntimo desconhecido” obrigou Kely a buscar informações e pedir ajuda. O processo a fez crescer e valorizar cada progresso obtido pelo filho, com quem desenvolveu uma relação extremamente próxima e amorosa.

Lucas, de 10 anos, é 20 anos mais novo que o primeiro filho de Kely.
− Ser mãe de uma criança especial te exige um esforço a mais. Mas também te dá mais recompensas. A mãe de uma criança comum fica feliz com ela aprender a andar; a mãe de uma criança especial fica feliz dela ficar de pé, com o primeiro passo, o primeiro “mamã”. É tudo muito suado, com muita luta, com muito sacrifício. A satisfação da vitória é muito maior, você passa por coisas que passavam despercebidas com o meu primeiro filho. Você passa a dar valor a pequenas coisas – compara.
Ela não guardou para si o que aprendeu na luta diária com Lucas. Fundou a “Bebê Down”, para passar sua experiência a outras mães que lidam com a mesma situação. Com o passar do tempo, o trabalho ganhou relevância, a ponto de Kely assumir a presidência da Apae. Hoje, o ‘Bebê Down’ atende dentro da própria instituição, que conta com uma equipe de profissionais apaixonados pelo trabalho e também tem dificuldades para se manter. As doações, ela diz, são bem-vindas. Assim como os visitantes que quiserem conhecer o trabalho pessoalmente. Já a força para enfrentar o desafio, ela diz que vem do olhar e das lágrimas de outras mães que pedem ajuda.
Com tudo isso, a ‘supermãe’ das crianças especiais de Cabo Frio agradece ao caçula pelas transformações na sua vida.
– O Lucas na minha vida é um grande presente, uma bênção de Deus. Quando ele nasceu, eu não sabia o que faria com ele, hoje não sei o que faço sem ele. Mudou totalmente minha vida e a da minha família – derrete-se.
A Apae de Cabo Frio fica na Avenida Joaquim Nogueira, 571, São Cristóvão. O e-mail é cabofrio.rj@apaebrasil.org.br. O telefone é (22) 2643-0115.
“A mãe de uma criança comum fica feliz com ele aprender a andar; a mãe de uma criança especial fica feliz dela ficar de pé, com o primeiro passo, o primeiro ‘mamã’”.
A PARTIR DA HISTÓRIA DA SUPERMÃE KELY, A EQUIPE DO PORTAL FONTE CERTA PARABENIZA A TODAS AS SUPERMÃES DA REGIÃO DOS LAGOS.”