Integrantes de associações e de coletivos em defesa da mulher fazem um ato nesta quinta-feira (29), na Praia do Forte, em Cabo Frio para dar início à campanha ‘Nem Pense em Me Matar’, de denúncia contra o feminicídio, no estado do Rio. O grupo fincou 50 cruzes na areia para representar as vítimas da violência contra as mulheres. O protesto em Cabo Frio faz parte de um movimento nacional que terá duração de dois anos, chamado ‘Levante Feminista contra o Feminicídio’.
Como não há dados estatísticos precisos, a quantidade de cruzes não representava necessariamente o número de casos de feminicídio, mas a cena chamou a atenção de quem passava pelo calçadão da orla, até por causa da quantidade de algas vermelhas trazidas pelo mar e que mudaram a paisagem da Praia do Forte, aumentando a carga de simbolismo da manifestação.
“Nós estamos juntas nessa campanha nacional que está tendo lançamento nos estados. Hoje é o lançamento no Rio de Janeiro. Nós elaboramos um manifesto que esperamos que tenha mais de 100 mil assinaturas para que a gente sensibilize a sociedade, o poder público e privado; movimentos sociais; Legislativo; Executivo; Judiciário, para a gente dar um basta no feminicídio no Brasil, em Cabo Frio; na região e no Rio de Janeiro. Porque o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking de feminicídios. É a morte de mulheres por uma violência de gênero, que é o fato de ser assassinada pelo simples fato de ser mulher”, explica Marileia Bezerra, do Movimento de Mulheres de Cabo Frio (MMCF) e da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB Lagos).
Além das cruzes na areia, o ato teve uma faixa afixada no guarda-corpos do calçadão da praia. Por causa da pandemia de Covid-19, foram obedecidas as normas de distanciamento social, sem aglomerações, e higienização. A manifestação foi autorizada pela Prefeitura, que deu apoio por meio da Superintendência da Mulher. Além do MMCF e da AMB Lagos, a movimentação contou com o Setorial de Mulheres do PSOL. O lançamento da campanha no estado do Rio também teve um ato em São Pedro da Aldeia.
O abaixo-assinado da campanha pode ser encontrado no endereço https://www.change.org/p/supremo-tribunal-federal-nem-pense-em-me-matar?fbclid=IwAR3Hb8kVv45zcSVlI_I019VZpfYlDLYnNzcSR6AYCHXn2bVBBKcVKsbP6dU.
Segundo Marileia, entre janeiro e março, Cabo Frio registrou três casos de feminicídio, mas o número pode ser maior por causa da subnotificação. A ativista aponta que somente 10% dos mais de cinco mil municípios brasileiros possuem delegacias especializadas para mulheres. Nesse contexto, ela valoriza o trabalho das entidades de defesa dos direitos da mulher.
“O Movimento de Mulheres de Cabo Frio tem participado há muitos anos do enfrentamento à violência. Inclusive, a criação do Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência foi um projeto do Movimento de Mulheres e hoje temos esse equipamento de funcionando. A Delegacia Especializada da Mulher (Deam) também foi uma luta nossa, como o atendimento à violência sexual, no Hospital da Mulher. Então temos muito engajamento e orgulho desse comprometimento. Achamos que estamos fazendo a nossa parte. Como movimento social não atendemos casos de violência, isso é papel do estado. O nosso papel é fomentar que o estado promova as políticas públicas. Estamos aqui denunciando, ajudando e contribuindo a formular essas políticas, e encaminhando os casos que nos chegam”, finaliza Marileia.