Os agentes da 125ª Delegacia Policial, em São Pedro da Aldeia, prenderam, na manhã desta quinta-feira (29), uma foragida da Justiça gaúcha. De acordo com a Polícia Civil, a ação teve apoio da 3ª DP, de Canoas (RS). As investigações apontam que a mulher integra uma associação criminosa de estelionato, que comete os crimes por meio do “golpe do bilhete premiado”.
O golpe é uma estratégia sofisticada de estelionato que se baseia em uma encenação para ludibriar as vítimas. Os criminosos recrutam pessoas para interpretar diferentes papéis, como um homem mal vestido representando um indivíduo do interior em situação de vulnerabilidade, e outro bem vestido, fingindo ser uma pessoa instruída e confiável. Ao abordarem a vítima, ela se depara com uma história convincente sobre um bilhete premiado de loteria, que está em posse do personagem do interior.
Com a ajuda do comparsa bem vestido, os golpistas simulam contatar um suposto gerente da Caixa Econômica Federal para validar o bilhete. A encenação usa telefonemas e informações falsas sobre o sorteio. Finalmente, os criminosos persuadem a vítima a entregar cartões bancários e senhas, alegando a necessidade de “ajuda” para reivindicar o prêmio. A explicação completa do golpe, você encontra ao fim deste texto.
Além de cumprir mandado de prisão temporária, os agentes também deram cumprimento a uma ordem de busca e apreensão. Conforme as informações, a mulher recebeu em sua conta bancária valores do golpe e os repassava a outro integrante da organização.
A operação que originou essa ação recebeu o nome de ILLUSIO e teve desdobramentos em quatro estados. De acordo com a 125ª DP, até o momento, os agentes prenderam seis pessoas. As investigações apontam que a quadrilha subtraiu cerca de R$ 600 mil das vitimas.
Golpe do bilhete premiado
De acordo com a Polícia Civil de Canoas, o golpe consiste em fazer com que a vítima acredite estar diante de um milionário. Na execução do golpe, os criminosos utilizam veículos e, pelo menos, três personagens. Um deles anda mal vestido e interpreta uma pessoa do interior, com baixo grau de instrução e sotaque característico. Nesse sentido, em algumas oportunidades, esse papel é interpretado por uma mulher com barriga de grávida ou por um homem mais velho. De forma geral, é esse indivíduo pobre o detentor do falso bilhete.
A pessoa permanece no local que a quadrilha escolheu até o momento em que visualiza uma vítima em potencial. Assim que a vítima passa pelo golpista, ele realiza a abordagem, pedindo ajuda para encontrar um endereço ou um local que não existe. Por isso, a vítima faz algum questionamento para tentar entender e, assim, auxiliar o “pobre homem”.
Nesse momento, o estelionatário começa a contar sobre sua situação de vida. Diz que não sabe ler, que mora no interior com a mãe e que são muito pobres. Além disso, afirma que um homem visita o sítio da mãe periodicamente para vender utensílios domésticos. Dessa forma, ele fala que esse homem também vende “rifas” e que, em uma determinada oportunidade, sua mãe comprou um bilhete da Quina. O golpista alega que alguns dias após a mãe comprar esse último bilhete, um homem procurou a família pedindo o “recibo da rifa” (bilhete da Quina) de volta. Em troca disso, daria R$ 5.000,00 em utensílios domésticos para a família. Sendo assim, o homem do interior está, supostamente, procurando o endereço do vendedor para lhe entregar o bilhete e retirar os utensílios prometidos por ele.
Entrada do segundo golpista na história
Em algum momento da conversa entre a vítima e o homem do interior, um segundo estelionatário simula estar caminhando pela rua. Nesse sentido, ele escuta a conversa e oferece ajuda. Esse comparsa está sempre bem vestido e utiliza uma linguagem correta, simulando ser uma pessoa de maior grau de instrução. Então, o homem pobre conta toda a história para o comparsa que finge estar desconfiado da situação e pede para que detentor do bilhete mostre o tal “recibo da rifa”.
O homem mostra um bilhete da Quina. A partir daí, o segundo estelionatário demonstra ficar ainda mais desconfiado e alega ter um amigo que é gerente da Caixa Econômica Federal. Nesse momento, o homem faz uma ligação, colocando o telefone no viva-voz. É aí que entra o terceiro comparsa, que atende e reforça a história da dupla.
Terceiro elemento no Golpe do Bilhete Premiado
Então o golpista que fez a ligação pede para o gerente confirmar o resultado do concurso da Quina de número “xxxx”. O gerente informa os números sorteados que, coincidentemente, são os mesmos números do bilhete do primeiro criminoso. Nesse momento, a dupla finge estar surpresa com a descoberta. O homem do interior pede ajuda para retirar o prêmio.
Aqui existem algumas variações, mas, geralmente, a dupla ainda está com o gerente da CEF na linha e ele passa instruções para retirada do prêmio. O gerente diz que são necessárias duas testemunhas portando documento com foto e um extrato da conta para onde o dinheiro do prêmio será transferido. O homem do interior pede para que o comparsa e a vítima lhe auxiliem sendo as duas testemunhas, dizendo que assim que receber o prêmio, presenteará cada um dos dois com R$ 100 mil.
A vítima é convencida a embarcar no carro do estelionatário mais bem vestido e os três seguem em direção ao banco onde a vítima possui conta. Em alguns casos, quando a vítima não está em posse do cartão, os golpistas dirigem até a residência da pessoa para que ela busque o cartão bancário. Chegando na agência bancária, normalmente, a vítima entrega o cartão e a senha da conta para o motorista que vai até o caixa eletrônico e realize todas as movimentações possíveis.
Consumação do golpe
O pretexto para que a vítima entregue cartão e senha é o de que o golpista possui conta no mesmo banco da vítima. Sendo assim, ele irá tirar o extrato de sua conta e da conta da vítima, enquanto esta aguarda no carro com o homem do interior. Outro motivo que leva a vítima a aceitar a ideia de aguardar no carro é o receio de que a dupla vá embora enquanto ela está no interior do banco.
Em alguns casos, quando a vítima possui muito dinheiro disponível em conta, o golpista mais bem instruído sugere que, para facilitar o processo, a vítima transfira o valor equivalente a sua parte do prêmio para uma conta que ele indique. Dessa forma, quando o homem do interior receber o prêmio, será necessário realizar apenas uma transferência de R$ 200 mil para a conta da vítima, uma vez que o comparsa já recebeu a parte que lhe é devida.
Para isso, ela é orientada a entrar na agência e transferir seu dinheiro para uma conta indicada pelo motorista. O golpe é tão bem elaborado, que o estelionatário, prevendo a desconfiança dos funcionários do banco, propõe que a vítima diga ao atendente que o dinheiro que ela está tentando transferir é referente à compra de um terreno.
Em posse do dinheiro, os golpistas combinam com a vítima um horário para que os três se encontrem para retirar o prêmio e fogem. Ou simplesmente pedem para que a vítima desça do carro sob algum pretexto e fogem da mesma forma. A vítima percebe que sofreu um golpe somente depois de perder o contato com os estelionatário.