Foi à beira da Lagoa de Araruama que a pesca se estabeleceu como símbolo da Região dos Lagos, e é no mesmo lugar que, desde 2023, a nova geração está sendo formada. Neste ano, o projeto Embarque, que promove capacitações de fomento à Construção Naval Artesanal (CNA) na Região dos Lagos, vai completar um ano e meio desde que chegou a Búzios e Arraial do Cabo. Durante o período, com o auxílio dos quatro mestres barqueiros – que comandam as oficinas do programa – 15 jovens das comunidades pesqueiras da Rasa, Praia da Armação, Prainha e Monte Alto estão sendo capacitados para auxiliar suas associações no futuro.
Estabelecido pelo Instituto de Pesquisa em Educação e Desenvolvimento Social (OSC), o projeto objetiva promover a propagação da cultura da pesca artesanal e o fomento da educação ambiental. Para que o objetivo fosse cumprido, as aulas foram pensadas para atender três tipos de formações: socioambiental, audiovisual e técnica.
Com as oficinas, Clara Mara, ativista ambiental e coordenadora de comunicação do projeto Embarque, acredita que o objetivo está sendo cumprido:
“A população tradicional, o pescador, a pescadora, a marisqueira, o mestre barqueiro, os aprendizes dos mestres barqueiros, eles fortalecem o meio ambiente a partir do seu modo de vida tradicional. Então, trazer um projeto que traga essa ampliação dessa construção naval artesanal traz também uma ampliação da sustentabilidade ambiental. E esse é o tipo de projeto que promove a noção de pertencimento local, que é tão importante para pesca. Com ele, a pesca artesanal vai ser capacitada para continuar nos próximos anos, através das próximas gerações e dos princípios socioambientais, e do registro, enriquecimento e ampliação dos saberes ”, contou.
Após um ano e meio de projeto, ao todo, cerca de oito oficinas já foram ofertadas aos treinees do programa. Realizadas em aulas que acontecem duas vezes na semana, entre as oficinas estão os seguintes temas: noções em embarcações, que englobou a construção naval, mecânica e elétrica para embarcações marítimas; Educação e Gestão ambiental Pública; Comunicação e Audiovisual; Economia solidária; Políticas Públicas da Pesca Artesanal e outras.
Para Joel, um dos mestres barqueiros e Presidente da Associação de Pescadores Artesanais de Monte Alto (APAMA), participar de um projeto que promove a continuidade de cultura pesqueira da região é gratificante.
“Poder ensinar outras pessoas aquilo que você aprendeu, para mim, a sensação é gratificante. Eu sempre falo com a Clara porque a gente faz de coração. No meu caso, eu aprendi só olhando e fazendo em casa, e eles [os cursistas] vão ter a oportunidade de aprender e criar projetos para a melhora da pesca na lagoa. Vão poder seguir para outras áreas como o turismo de base comunitária também e isso é muito bom. [O projeto] foi uma porta com vários caminhos e preparou eles para o futuro.”, explicou o mestre barqueiro de Monte Alto.
“Tudo que começa, termina”
Apesar de promover a passagem de conhecimento para as novas gerações, o projeto Embarque não deve continuar nos próximos anos. Inserido no Projeto Educação Ambiental, que é uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa PRIO, conduzido pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF/RJ), o projeto tem verba para apenas um ano de continuidade. Neste ano, o projeto deve continuar até agosto e o prazo tem um bom motivo: finalizar e entregar o prometido.
“Tudo que começa, termina, né? A gente tem um ano e meio de execução que vai acabar agora em agosto. E para finalizar, só faltam a conclusão de algumas oficinas, o último relatório audiovisual e o lançamento do boletim que é de todo o projeto, de toda a estrutura. Foi o proposto a ser feito até então. Os mestres poderão continuar o trabalho no espaço, que já existe. Já está pronto. Mas esse projeto só tem um ano e meio.”, explicou Clara.
Apesar da esperança de Clara, para o Mestre Joel, após o prazo, a continuidade das aulas fica inviabilizada.
“Nós damos aulas gratuitas, no caso, pelo projeto, mas existe um investimento do Instituto de Pesquisa em Educação e Desenvolvimento Social e da Funbio para isso. E essa é a questão da gente depois participar e continuar sozinho no ano que vem. Tem sim o espaço, porque o projeto conta com as associações de pesca, mas sozinhos, nós não vamos poder comprar material e ajudar essas pessoas que queiram aprender. Essa é uma das nossas preocupações, principalmente a minha, que recebo pedido de pessoas que querem entrar, porém não tem espaço. Depois que o projeto acabar, a gente queria dar continuidade sim. Mas como nós vamos ter condições de prestigiar esses alunos?”, contou o mestre.
No momento, Joel e os outros Mestres Barqueiros do projeto estão em busca de apoiadores da Região do Lagos interessados em financiar a continuidade do projeto, mas a ação ainda não é certa.