A produção artesanal das mulheres do quilombo da Baía Formosa, em Armação dos Búzios, está sendo reforçada pelas ações do projeto Somos Divas na Luz do Candeeiro, do Instituto Carlos Scliar e Prolagos. Nesta semana, a comunidade recebeu uma nova fornalha, com o objetivo de promover a capacitação e geração de renda para as mulheres através do artesanato, além de impulsionar a cultura quilombola através do investimento nas tradições da comunidade .
Culturalmente, o forno a lenha é utilizado pelos quilombos na culinária com a preparação de diversos pratos típicos, que são um dos principais atrativos para a visita de turistas no local. Agora, com a construção de um novo forno, a ferramenta ganha uma nova função, podendo ser utilizada na criação de verdadeiras obras de arte em cerâmica.
O processo de montagem das peças é bem longo e complexo. Primeiro, a argila é moldada em diversos tipos de materiais que precisam secar na sombra durante 20 dias. Após esse período, é preciso aquecer o forno a lenha em alta temperatura por três horas antes do cozimento do material. Depois dessa etapa, os objetos demoram mais dois dias para esfriar. Por fim, para garantir a impermeabilidade das peças, ainda existe o processo de vitrificação, que consiste em uma segunda queima do produto.
Segundo Valquíria dos Santos Conceição, a produção conecta as mulheres quilombolas às tradições do passado.
“Foi muito maravilhoso poder continuar com a tradição dos nossos antepassados, da minha avó, de quem veio daquela geração que fazia tudo a lenha”, comenta a integrante do projeto na Baía Formosa.
Para Esila Andrade, outra participante do projeto, o apoio do programa é fundamental.
“Com o Divas, nós começamos a nos unir mais e trabalhar com a questão do artesanato. Antigamente, nós éramos mais individuais e agora estamos com esse coletivo de mulheres”, conta.
Sobre o projeto Somos Divas na Luz do Candeeiro
O Somos Divas na Luz do Candeeiro é desenvolvido pelo Instituto Cultural Carlos Scliar em parceria com a Prolagos a quatro anos. Desde o início, em 2020, o projeto já impactou mais de 30 mulheres dos quilombos da Baía Formosa e Maria Joaquina, em Cabo Frio, e Caveira, em Botafogo, São Pedro da Aldeia. Durante o projeto, as mulheres aprenderam a produzir diversos tipos de utensílios como copos, xícaras, pratos, luminárias, biojoias, entre outros, para serem vendidos em feiras dos municípios e nos próprios territórios. A iniciativa está alinhada ao Respeito Dá o Tom, programa realizado por todas as empresas do grupo Aegea que promove ações com foco na igualdade e diversidade racial.
Além da capacitação para a confecção de cerâmicas e o início da montagem de uma linha de produção nos próprios quilombos, as mulheres também passaram, neste ano, por um treinamento sobre empreendedorismo e redes sociais, em parceria com o Sebrae, para ajudá-las a tornarem a atividade em um ramo sustentável financeiramente.
“Estamos sempre procurando novas parcerias e iniciativas para oferecer capacitação qualificada para que elas sejam donas de seus próprios negócios. Iniciamos com a arte da cerâmica e agora estamos focando em várias áreas do empreendedorismo para que possam, ao final, mostrar sua arte e receber pelo seu trabalho”, afirma Aline Araújo, coordenadora de Responsabilidade Social da Prolagos.